Resenha do filme: Dungeons & Dragons

CINEMA E TEATRO

Assim como nas adaptações de games para o cinema, transformar o RPG de mesa Dungeons & Dragons em filme tem seus percalços. Ao mesmo tempo em que precisa honrar a nostalgia de Caverna do Dragão, Honra Entre Rebeldes precisa apagar o gosto ruim deixado pela primeira versão de D&D em live-action, lançada no ano 2000.

O longa centra no bardo Edgin (Chris Pine), que busca uma relíquia mágica para ressuscitar sua esposa e recuperar a confiança de sua filha Kira (Chloe Coleman). A campanha não é a mais complicada – derrotar o exército do ex-aliado traíra Forge (Hugh Grant) e da feiticeira Sofina (Daisy Head) – na companhia da bárbara Holga (Michelle Rodriguez), da druidesa Doric (Sophia Lillis), do paladino Xenk (Regé-Jean Page) e do mago Simon (Justice Smith).

Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein recorrem sem pudor ao expansivo universo da franquia com uma listagem descompromissada de criaturas, classes, artefatos, lugares e easter eggs, apresentados no filme com a consistência solta de quem está numa partida de D&D e saca magias ou objetos de improviso. Essa liberdade é uma das graças do filme, que no geral se mostra receptivo também para quem nunca jogou um RPG de mesa, uma vez que é bastante familiar e acena para diversas franquias: Star Wars, Game of Thrones, Scooby Doo, The Legend of Vox Machina, Stranger Things. De uma forma ou outra, todas essas narrativas beberam do RPG lançado nos anos 1970.

Um exemplo é o próprio enredo tão conhecido: um grupo improvável se junta em uma jornada para recuperar um item, mas as coisas se tornam obscuras quando eles cruzam caminho com as pessoas erradas. Honra Entre Rebeldes segue essa fórmula com poucas margens de erros, e investe num elenco que sabe incorporar com charme o descompromisso que norteia a adaptação; Pine, Grant e Page se destacam nos diálogos ágeis e bem humorados criados pelos diretores e a dupla de roteiristas Chris McKay e Michael Gilio.

Se a dinâmica quase paródica no tom do filme e nas atuações faz lembrar Guardiões da Galáxia – o produtor Jeremy Latcham trabalhou em ambos – as cenas de ação por vezes vão além do explorado pelo MCU, com jogos de câmera bastante inteligentes para uma fantasia blockbuster. De resto, chama mais atenção a boa mistura de prostéticos e animatrônicos com CGI do que algum efeito visual mais pontual. Se este D&D deixar sua marca no imaginário popular, provavelmente será mais por sua proposta lúdica de comédia e aventura do que exatamente por inovações visuais.

Assim como Daley e Goldstein haviam feito no seu longa anterior, A Noite do Jogo (2018), D&D: Honra Entre Rebeldes prova que é possível flertar com a paródia sem recorrer ao cinismo nem abandonar a inocência e a leveza. O filme anterior da dupla já propunha uma narrativa de reviravoltas lúdicas, com imprevistos da jornada, tomadas de decisões questionáveis, diálogos com comentários nonsense, sorte e azar em momentos decisivos – a diferença aqui é que esse lado lúdico faz parte da própria natureza de jogar D&D.

Por: Balaio Cultural

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