Sem cadeiras e sombreiros, banhistas aproveitam ‘areia livre’ no Porto da Barra

Sem cadeiras e sombreiros, banhistas aproveitam ‘areia livre’ no Porto da Barra

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A estação mais quente em Salvador é sempre uma caixinha de surpresas. A Praia do Porto da Barra viveu um dia atípico em uma pacata terça-feira (28) de Verão: o azul que se via era apenas o do mar e não mais dos guarda-sóis fincados por toda a faixa de areia. Com a ausência dos barraqueiros, quem pôde, correu para curtir uma pontinha de areia, agora livre. Durante todo o dia, a praia recebeu turistas, moradores, famílias, esportistas e até famosos, tudo quanto é gente que queria aproveitar o dia sem precisar se esquivar das cadeiras e sombreiros que normalmente roubam grande parte do espaço.

“A praia é uma delícia, sem estar loteada, a gente vendo todo mundo, vendo a parede da praia, que a gente fazia tempo que não via, comentava sobre a decoração ali na parede, uma delícia isso aqui, sem muito sombreiro, sem todo mundo amalocado debaixo do sombreiro”, celebrou o soteropolitano Emerson Carvalho, 49 anos. O arquiteto, ao saber da novidade, convocou dois amigos e desceu para tomar um banho de mar e aproveitar o espaço deixado pelos barraqueiros. “Eu saí do trabalho para vim ver a praia vazia, era o que eu sempre quis ver”, contou o morador do bairro há pelo menos 40 anos. A única vez em que ele afirma ter visto a praia livre desta maneira, foi durante a pandemia de coronavírus.

Já para a trabalhadora autônoma Mariana Nunes, 32 anos, o ponto alto do dia foi conseguir curtir a praia sem precisar pagar valores “absurdos” pelas cadeiras na praia. “Lógico que a gente não tem infraestrutura, sei que muita gente precisa disso aqui para manter suas famílias, mas existe um valor absurdo que eles cobram, para mim está muito bom hoje”, argumentou a frequentadora assídua do Porto da Barra, ao lado da amiga.

“Durante o ano inteiro é até tranquilo, mas no verão não é. A galera quer limitar mesmo, quem vem com seu cooler, como eu, que venho com meu cooler, minha ‘canguinha’. Não existe espaço para quem vem”, lamentou.

Por onde quer que se olhasse, o público se dividia entre quem curtia o solzinho do fim da tarde e quem aproveitava o espaço para praticar esportes e jogar com os amigos. Por todo lado, diferentes grupos jogavam suas bolas de um lado para o outro, sem a preocupação de esbarrar nos sombreiros. “Sem as barracas está muito bom, dá mais espaço para a gente poder se divertir, brincar, jogar altinha, tanto altinha quanto vôlei. Está sendo bem legal”, contou o estudante Gabriel Freitas, 19 anos, nas pausas entre uma partida e outra.

Nem mesmo Caetano Veloso não aguentou ficar de fora da ‘folia’. O músico se rendeu ao dia de areia livre no Porto e foi flagrado enquanto curtia o pôr do sol na sua praia favorita com apenas uma canga e um sonho. Já havia caído a noite quando Caetano deixou a Barra.

Apesar de também ter saído de casa para celebrar o espaço livre na praia, o analista de sistemas André Tomé, 52 anos, declarou preocupação com os trabalhadores do local. “É [bom] olhar de lá de cima e ver a praia bem bonita como está agora, é diferente de ver coberto com azul, que não é o azul do mar, é dos sombreiros. Isso me incomoda, mas eu tenho um monte de amigos que trabalham aí”, ponderou.

Para ele, é preciso encontrar uma alternativa, um meio termo que consiga dar liberdade aos banhistas e preservar o trabalho dos barraqueiros. “Não tem ninguém vendendo e isso faz parte da cultura daqui, mas ficar coberto de sombreiro também me incomoda. Eu queria poder trazer o meu sombreiro e colocar aqui, e se eu quiser [pegar] sol, eu tiro o sombreiro, queria ter essa alternativa”, afirmou.

A manifestação dos barraqueiros foi o motivo da ausência dos sombreiros pela praia. Os trabalhadores protestam contra as medidas que deram uma nova configuração ao uso da faixa de areia na última quinta-feira (23). As novas regras incluem a delimitação do espaço destinado a cada permissionário, para ordenar a ocupação, e a limitação do número do número de cadeiras e sombreiros que cada um deles pode fixar no local. Foi estabelecido que cada barraca forneça, no máximo, 30 cadeiras e 10 sombreiros.

Webcomemoração

Até mesmo quem não conseguiu ir até a praia, celebrou de longe o dia de ‘areia livre’. Nas redes sociais, internautas circularam diversas imagens em que é possível ver a praia por completo. “Porto da Barra ficou até mais bonito sem barraca, continue esse protesto por mais 10 anos”, pediu um deles.

“Bizarro como o Porto da Barra assim, contando a localização e maré que tem, se tornou a MELHOR praia de Salvador. Bem que podia ficar dessa forma para sempre”, sugeriu outro.

“Claro que a galera precisa fazer o corre, mas tudo tem limite, o Porto está impraticável. Não tem faixa de areia livre, não tem a opção de ir com sua canga e ficar de boa, tem que ter uma regulação mesmo, porque atualmente é um caos”, afirmou um terceiro internauta.

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